Passageiros ficam presos em carro autônomo da Waymo

Na última semana, passageiros a bordo de um táxi autônomo da Waymo em Austin, Texas, viveram um episódio que parece saído de uma distopia moderna: o veículo travou no meio de uma movimentada rodovia e se recusou a liberar as portas para que eles saíssem.

Becky Navarro, uma das passageiras, relatou a experiência ao Arizona Republic, descrevendo o momento como “um dos mais assustadores” de sua vida. Segundo ela, o carro simplesmente parou na MoPac Expressway — uma via expressa de alta velocidade — em plena hora de pico. Para agravar a situação, as portas permaneceram travadas, e o sistema de assistência da Waymo não conseguiu intervir.

“Estávamos presos dentro do carro, com carros passando a toda velocidade ao nosso lado, sem podermos sair,” disse Navarro. “Parecia que estávamos em perigo real.”

O episódio começou quando o Waymo se viu confuso ao tentar acessar uma via expressa. Em vez de seguir adiante ou corrigir a rota, o carro parou — no meio da estrada. Uma mensagem automática começou a tocar repetidamente, alertando os passageiros: “Veículo se aproximando.”

Os ocupantes então tentaram entrar em contato com a central de suporte da Waymo. O atendente, segundo Navarro, apenas informou que a equipe não podia assumir o controle do veículo remotamente e que não havia muito a ser feito além de aguardar. O funcionário mencionou que os passageiros poderiam tentar abrir as portas manualmente puxando a maçaneta duas vezes — uma sugestão impraticável, considerando o tráfego intenso ao redor.

“Eu nunca tinha me sentido tão impotente”, relatou Navarro. “Não havia para onde ir. Não podíamos sair. Não podíamos nos mover.”

Depois de vários minutos tensos, o Waymo finalmente conseguiu retomar o movimento, saindo da rodovia e permitindo que os passageiros deixassem o carro em segurança.

Incidentes anteriores

Este não é um caso isolado.

O Arizona Republic também reportou outro incidente envolvendo um passageiro chamado Chris Brooks, que ficou preso em um veículo Waymo em um estacionamento em Tempe, Arizona. Após o carro parar em frente a um bloco de concreto, Brooks tentou seguir as instruções da Waymo para abrir a porta — mas, mesmo após vários puxões na maçaneta, ela permaneceu bloqueada. Ele só conseguiu sair após a chegada de um funcionário da Waymo.

Em nota enviada à imprensa, a Waymo reconheceu o incidente de Austin, afirmando que o veículo “parou por um breve período” e que a equipe de suporte “estava em constante comunicação com os passageiros.” Sobre o caso de Tempe, a empresa não comentou.

A empresa disse também que está revisando seus procedimentos de assistência e protocolos de segurança para lidar melhor com essas situações no futuro.

Dados preocupantes

Embora a Waymo promova seus carros autônomos como alternativas seguras em comparação à direção humana, dados da Administração Nacional de Segurança no Trânsito nas Rodovias (NHTSA) dos EUA sugerem outra realidade.

Entre julho de 2021 e maio de 2022, os veículos da Waymo se envolveram em 150 acidentes — o que representa cerca de 24% de todos os incidentes envolvendo sistemas de direção autônoma registrados no período. De maneira geral, mais de 600 acidentes com veículos autônomos foram relatados, sendo que 21% envolveram pedestres, ciclistas ou objetos fixos. Entre maio e setembro de 2022, 11 mortes foram registradas em acidentes com carros autônomos.

Especialistas apontam que, embora os carros autônomos possam reduzir acidentes causados por erro humano, eles introduzem novos tipos de riscos — especialmente quando a tecnologia encontra situações imprevistas ou “zonas cinzentas” no tráfego.

Debate sobre segurança

Diante dos eventos recentes, a discussão sobre a regulamentação e os limites para operação de veículos autônomos se intensifica.

Enquanto alguns estados norte-americanos flexibilizam regras para incentivar testes e lançamento de novos serviços, outros começam a endurecer as exigências. A China, por exemplo, já impôs regulações severas após incidentes fatais envolvendo carros autônomos.

No caso da Waymo, os incidentes recentes mostram que, por mais que os algoritmos sejam poderosos, a realidade do trânsito urbano é cheia de nuances e imprevistos que nem sempre podem ser antecipados pelas máquinas.

Em um mundo que corre para a automação total do transporte, o episódio de Austin serve como um lembrete: a segurança do futuro não depende apenas da inteligência das máquinas — mas da nossa responsabilidade em definir onde, quando e como usá-las.